22.10.12

Quiaios e Grupo Instrução e Recreio Quiaiense

Quiaios - Historial
Quiaios, é uma vila milenária da beira-mar situada 8 km ao Norte da sede do concelho, a Figueira da Foz. Durante séculos foi a sua população constituída por gente ocupada essencialmente na agricultura, colonos que a fertilidade da terra aqui fixou e fez progredir. Depois, o mar, rico em espécies de invulgar qualidade, chamou a si pescadores das regiões nortenhas e as suas tradições caldearam-se com as já existentes numa simbiose etnográfica digna de estudo e preservação. 
O primeiro documento que se refere a Quiaios data de 897. Recebeu foral atribuído por D. Manuel I a 23 de Agosto de 1514. Na reorganização administrativa realizada na primeira metade do século XIX, passou de concelho a freguesia, integrando o atual concelho da Figueira da Foz em 1853. É atualmente a vila rural mais populosa do concelho. A agricultura praticamente não existe e a intensa atividade piscatória da Praia de Quiaios no inicio do século, morreu por completo em 1969 com o fim da atividade da última companha de pesca, para dar lugar ao veraneio e aumentar ainda mais a quantidade de pedreiros carpinteiros e serralheiros - designados localmente por classe dos artistas - que daqui saíram para trabalhar em diversos pontos do país e estrangeiro. 
Com a indústria praticamente reduzida a uma unidade que emprega cerca de 200 pessoas, obriga a que todos os que não têm ocupação no comércio e serviços locais se desloquem à sede do concelho ou a outras localidades, para exercer as mais diversas profissões. No domínio da gastronomia, o chouriço de Quiaios, vendido a palmo, foi o principal atrativo, desempenhando hoje apenas o papel de referência cultural, das poucas que ainda caracterizam a freguesia. 
 Enquadramento social: No início do século XX a freguesia estendia-se da Serra da Boa Viagem até à Tocha, já no concelho de Cantanhede. Quiaios era então uma das muitas vilas do Litoral português onde as gentes do mar e da terra se confundiam nas suas atividades quotidianas. Na vila, distante da praia cerca de três Kms, desenvolvia-se diariamente uma agitada atividade laboral: Eram os carros de bois carregos de abegoaria que atravessavam os largos em calçada de marga, sardinheiras de cesta à cabeça a apregoar o peixe da nossa praia, de porta em porta ou a caminho das aldeias da gândara, mulheres tocando os burros de seirão carregado de estrume, até às minúsculas propriedades que rodeavam a vila, almocreves que chegavam da venda do pescado do interior beirão ou mulheres que chegavam da venda dos “mimos” das nossas hortas nas praças da Figueira, lavadouros apinhados de gente, onde se falava de tudo, homens empurrando os carros de mão carregados com canecos de água para os animais, mulheres da cântaro à cabeça para o governo da casa e ainda artesãos e pequenos comerciantes que garantiam então as mais básicas necessidades da população. 
Quiaios, era, ao tempo, um autêntico presépio construído no sopé da Serra da Boa Viagem. Se atividade laboral era intensa a cultural, para um meio pequeno, não o era menos. As récitas de teatro em casas particulares e teatros improvisados, ou os pavilhões enfeitados nos largos por altura do S. João, animados ao toque das tunas de Brenha e Tavarede, primeiro, e de Quiaios depois de 1914, as idas às feiras e romarias da região, as múltiplas e velhas tradições de inspiração urbana, como a serração da velha, a queima do judas, o enterro do bacalhau, a espera dos reis, as cavalhadas, sempre abertas pelos gaiteiros populares, as desfolhadas ao luar na quinta do Dr. Nogueira de Carvalho ou à beira das eiras dos lavradores mais abastados, as caqueiradas levadas a cabo nos dois principais largos de Quiaios por altura do carnaval, as longas procissões da Senhora e do Senhor, sempre acompanhadas pela Filarmónica, as celebrações da Semana Santa que tinham na procissão do encontro um dos pontos altos, e tantas outras tradições… coloriam as agruras de um quotidiano pesado, mas repleto de fraternidade e entreajuda. 

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Grupo Instrução e Recreio Quiaiense - Historial
O Grupo Instrução e Recreio Quiaense foi fundado em 5 de Outubro de 1913, tendo em Joaquim Maria Custódio Nogueira, muito jovem à época, o seu principal mentor e dinamizador. 
Para além de existirem algumas iniciativas de cariz cultural concretizadas em casas particulares, sobretudo no domínio do teatro e da música, existia em Quiaios apenas uma coletividade, a Sociedade Filarmónica Quiaense, que limitava a sua atividade ao ensino e execução musical. O inconformismo próprio da juventude, distintamente aguçado pelos tempos de utopia que as revoluções propiciam, concretamente a implantação da república, constituiu a calda em que haveria de nascer em Quiaios a primeira coletividade voltada para as múltiplas solicitações da sociedade local do princípio do século XX. Em Julho de 1913, num dos bailes que se faziam ao domingo à tarde em casa do Dr. Afonso Henriques de Miranda, claramente motivado pela atuação da Tuna de Tavarede nos Arraiais de S. João, Joaquim Maria Nogueira lança a ideia de criar uma Tuna em Quiaios, sendo prontamente aplaudido por todos. Iniciaram-se as aulas de música e a adesão foi de tal ordem que em Setembro já contavam com cerca de 20 alunos. Decidiram então constituir uma associação convidando para tal as pessoas mais distintas e influentes de Quiaios. A adesão foi pronta e no dia 5 de Outubro de 1913 realizava-se a primeira reunião, deliberando assim ser este o dia da fundação da coletividade. A tuna do G.I.R. fez a sua primeira exibição em público no dia de Páscoa de 1914, composta por 24 figuras. Seguiram-se tempos de sucesso e afirmação musical. 
Porém, a mobilização para a guerra de França, em 1917, da maior parte dos seus executantes e do seu regente, o Sr. Joaquim Maria Nogueira, levaram ao encerramento das portas do Grupo. Quando em fins de 1918 regressaram de França, voltaram a abrir-se as portas do Grupo Instrução e Recreio, que tinha a sua sede no largo de S. Sebastião (Rossio), numa parte de casa do Sr. Manuel Custódio Lontro, onde se situa hoje a casa com o nº 29 do Largo S. Sebastião.
Retomada a atividade, deliberou o Grupo passar a comemorar o seu aniversário no dia de Páscoa em sinal de renascimento ou Ressurreição da coletividade. Adquirido o terreno em hasta pública, deu-se início às obras de sede própria em 1922, sendo inaugurada no dia 23 de Dezembro de 1923, com a representação da peça “O Guigui”. Estava assim inaugurada a primeira sala de espetáculos em Quiaios. Seguiram-se múltiplas iniciativas no campo do teatro, da beneficência e instrução, com a Tuna do Grupo a pontificar no concelho e até no distrito. Nas primeiras décadas sobressaíram as operetas, algumas com músicas compostas pelos amadores locais, particularmente Joaquim Maria Nogueira. Nas décadas seguintes e até aos anos oitenta, foram anualmente levados à cena no palco do Grupo os melhores clássicos do teatro português, primeiro sob orientação do tavaredense, Mestre José Ribeiro, e posteriormente sob a responsabilidade de Manuel Gaspar Pereira. Nos últimos anos tem-se afirmado o teatro de revista garantindo grande adesão de público e o espaço necessário ao aparecimento de novos talentos. 
Protagonizada pelos jovens do Grupo, a primeira tentativa para introduzir o desporto na coletividade, aconteceu na década de quarenta do séc. XX, mas à margem das direções da Grupo. Só nos anos sessenta seria feita uma nova tentativa, através da criação da União Futebol Quiaense, que acabaria por ser integrada definitivamente na coletividade na década seguinte, quando já militava nos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Coimbra. Foi com a Integração da União Futebol Quiaense, que a coletividade passou a denominar-se, Grupo Instrução e Recreio Quiaense. A atividade musical da coletividade foi-se reduzindo à formação de sucessivos conjuntos de música ligeira, que a partir dos anos cinquenta haveriam de divulgar o nome de Quiaios por toda a região centro. Em 1956 foi criada a Secção de Folclore, com a designação pública de Rancho Folclórico Regional de Quiaios, secção que continua em plena atividade e tem levado o nome de Quiaios e do Grupo aos vários cantos de Portugal e a diversos países da Europa. 
Dada a dificuldade de fazer crescer as exíguas instalações, para tanta catividade, visto que a coletividade se situa entre duas ruas, os dinâmicos dirigentes da década de sessenta, apesar de meios materiais e técnicos limitados, iniciaram um arriscado projeto de construção de um piso inferior, melhoraria do palco e retirada das colunas que suportavam os balções da plateia. O Grupo viveu nesta altura um dos melhores períodos da sua história, mantendo em atividade três equipas de futebol em escalões diferentes, um grupo de teatro com grande projeção na região centro, rancho adulto e infantil, conjunto musical e projeções semanais de cinema, para além de múltiplas iniciativas recreativas. Também no ano de 1966 iniciaram os trabalhos de construção do campo de Futebol de 11. Nos anos noventa procedeu-se finalmente à ampliação das instalações para tardoz e mais recentemente à construção do polidesportivo descoberto. De realçar a tenacidade e o grande espirito de entreajuda do da família grupista, bem patente ao longo da sua história centenária, em momentos como a escavação do piso inferior, onde funcionam hoje diversos serviços, feita ao serão, com uma forte participação das mulheres no transporte da terra para o exterior, de cesta à cabeça, e mais recentemente na preparação das marchas de S. João da Figueira, onde o Grupo de sagrou várias vezes vencedor nas últimas duas décadas.

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