17.2.14

Sociedade Filarmónica Dez de Agosto

A Sociedade Filarmónica Dez de Agosto foi fundada em 10 de Agosto de 1880. Com sede na Rua das Rosas da Figueira da Foz é uma das mais emblemáticas agremiações pela sua postura e trabalho em prol da preservação da cultura popular figueirense.
Para além dos Autos Pastoris e Auto dos Reis Magos (assim como o respetivo cortejo da Espera de Reis na noite de 5 de Janeiro de cada ano, uma das tradições mais antigas da Figueira) a "Teimosa", como é carinhosamente conhecida, promove anualmente outros costumes locais, como o cortejo do Enterro do Bacalhau e a Serração-da-Velha.
Nas páginas de história que prestigiam esta coletividade, salienta-se ainda o concerto que a filarmónica deu no Convento da Batalha, em 1907, pois a assistir ao concerto estava D. Carlos, que a distinguiu com o título de "Real".
Ao longo dos anos acolheu nomes de prestígio, exemplos de Manuel Dias Soares, autor da música da Marcha do Vapor, que foi regente da filarmónica, e Maria Olguim - destacada figura do cinema nacional que ensaiou os primeiros passos como actriz no palco da coletividade, este que agora ostenta o seu nome. A Filarmónica Dez de Agosto - fundada em 10 de Agosto de 1880 - acompanhou musicalmente inúmeras corridas de touros, incluindo em Espanha.

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Autos Pastoris e Reis Magos
 
“Claramente um misto religioso e pagão, que se inscreve na memória coletiva da Figueira da Foz, para além de se assumir como a tradição mais antiga da cidade, mostra quadros musicais, plenos de vivacidade e que elevam de forma ingénua o nascimento de Jesus. Há um claro apelo à cultura popular portuguesa, bem vincada nas cenas que, outrora dispersas, se juntaram num auto com características muito peculiares e a tocar o ideal vicentino”.
Alguns quadros remontam ao século XVIII; outros, como a Romagem do Diabo, apareceram no século XIX. Antigamente o Presépio foi representado em vários teatros do concelho figueirense. Com textos bem elaborados, os Autos Pastoris da Figueira mereceram sempre várias referências de conceituados autores locais. Maurício Pinto, Armando Coimbra, Augusto Pinto, entre outros, teceram elogios a esta forma de expressão natalícia. A Filarmónica Dez de Agosto dá continuidade a esta benquista tradição que culmina, por altura dos Magos, com um "séquito real", pelas ruas da cidade, onde se destacam as figuras míticas de Belchior, Gaspar e Baltazar - os três reis do Oriente que visitaram o Messias. Depois na sua sede leva a cena o tradicional Auto dos Reis Magos.

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Serração-da-Velha

Deixam-se críticas à sociedade figueirense. A velha alcoviteira acaba sempre por ser condenada e serrada na praça pública, mas antes as críticas surgem no “tribunal”. O auto desenvolve-se ante as testemunhas e o público que vai ouvindo o rol de acusações e divisão da herança. Esta tradição acontece a meio da Quaresma.

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Cortejo do Bacalhau
Figurantes, vestidos a rigor, fazem, em Sábado Santo, a preceder o Domingo de Páscoa, o cortejo do "Enterro do Bacalhau". O séquito passeia pela cidade, deixa críticas, e faz lembrar que a época Quaresmal passou e que a carne já pode constar das ementas. O cortejo abre com um pendão que mostra um bacalhau gigante. Depois os adornos tradicionais: panelas, colheres de pau, e outros adornos, para fechar com a filarmónica.

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“Palco Maria Olguim”
A direção da Dez d’Agosto deu, em 2001, o nome de Maria Olguim ao palco da coletividade, lembrando a atriz que se estreou na Teimosa. Filha de pais espanhóis, apesar de seu pai estar a trabalhar na Figueira como ferroviário, Cipriana Lobato Holguim (o seu verdadeiro nome) nasceu em Castelo Branco em 26 de Abril de 1894. Muito cedo se interessa pela arte de representar. Aos 24 anos estreia-se na Dez d’Agosto, no Presépio. Um dos primeiros palcos que pisa é também o palco da Naval 1.º de Maio. Com o nome artístico de Maria Olguim faz mais de meia centena de películas. “O Costa do Castelo”, em 1943; “O Leão da Estrela”, “O Grande Elias”, “A Menina da Rádio” são muitos dos filmes em que participou. Em 1 de Janeiro de 1984, nas primeiras horas desse novo ano, Maria Olguim morre, na Figueira da Foz.

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Tradição na rua / A Espera de Reis
No livro “Dia de Reis”, de autoria do memorialista António Jorge Lé e de Ana Maria Lé: “A norte da Ponte do Galante, os reis da Dez d’Agosto acarinhavam o visual do cortejo. Uma cabrinha branca também fazia parte do desfile que utilizava o “Expedicionário” como som de fundo. A seguir a António Henriques, que por vezes dirigia a tocata, vinham os músicos tradicionais, muitos vindos de Quiaios. Outros, como o Sangalho do trombone, eram de mais perto. O Sarmento ou o falecido Seco de Jesus traçavam as linhas de orientação ao séquito que chegou a sair frente ao Coliseu Figueirense. A Fernanda, o Alfredo... foram tantos os que trabalharam para que, já com a música a tocar, o cortejo dos Reis Magos subisse e descesse a rua da Liberdade e, depois de passar ao Casino, percorresse o itinerário habitual, como se escreve no programa, com destino à coletividade”.
(Compilado de vários textos de António Jorge Lé - Ultimas 3 fotos de Raúl Cardoso e António Cruz)

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