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Pedro Fernandes Thomás

Se algum figueirense sonhou, uma dia, escrever uma história geral da Figueira da Foz, atrevo-me a dizer que foi Pedro Fernandes Thomás. Apaixonado da história da terra que o viu nascer em finais de Abril de 1853, Pedro Fernandes Thomás era, acima de tudo, um apaixonado de todo o saber, um humanista clássico de exacerbada curiosidade que se dispersou pelo ensino, pela prática republicana e maçónica, pelo jornalismo, pela arqueologia, pelo teatro e pela música e, certamente, por outros meandros da cultura, pois era um apaixonado da literatura e grande divulgador cultural.

Da prática pedagógica, pois foi professor na antiga escola industrial e comercial, ficou-lhe o epíteto de “mestre Pedro”, mas a realidade é que o título lhe assentava na plenitude da substância do termo. Pedro, era, em toda a acepção da palavra, um mestre, porquanto se desdobrava nessa actividade de pedagogo e divulgador dos conhecimentos que adquiria nas suas diferentes actividades.

Escreveu muito e bem; no “Comércio da Figueira”, na “Gazeta da Figueira”, no “Correspondência”, no “Correio”, entre outros; “Cantares do Povo”, “Teófilo Braga entre as gerações escolares”, “Manuel Fernandes Tomás, iniciador da Revolução Portuguesa de 1820”, “Canções Populares da Beira”, “Canções Portuguesas do século XVIII à actualidade” (editado a título póstumo pela imprensa da Universidade de Coimbra quando “ali” estava o insigne Joaquim de Carvalho) e, entre outros, este “Colecção de Elementos para a História do Concelho da Figueira”.  

Esta “Colecção de Elementos para a História do Concelho da Figueira”, editada em 1898 (embora nela figure uma nota final com a data de 1899) pela Imprensa Lusitana, é assinalada como uma 1ª parte de uma colecção mais vasta que não teve continuação.

A obra constitui uma recolha de escritos do seu autor na “Gazeta da Figueira”, a quem pareceu “mais útil” a sua reunião “em volumes”. A intenção era juntar em formato livro “o archivo dos diplomas officiaes inéditos ou já publicados, documentos particulares, referências históricas, leis, inscripções, etc. mas ainda a indicação de tradições, usos, costumes, jogos e outros divertimentos populares (…) tudo enfim que possa contribuir para a futura elaboração de uma história completa do Município Figueirense”.

A obra está dividida em duas partes: uma com o título de “Foraes”, onde se incluem cartas, assentos e notícias, certidões, inventários e petições; outra com o título de “Descripções, narrativas, documentos e referências históricas extrahidas de várias Chronicas e outras publicações”; uma última com o título de “Vária”, quase toda dedicada a Manuel Fernandes Tomás, a qual inclui uma bibliografia do político e jurisconsulto. Esta divide-se em três sub-partes, sendo a primeira dedicada a escritos do político, a segunda, com duas secções, dedicando-se a primeira a “livros, opúsculos e folhas soltas” e a segunda a “jornaes e revistas”; a terceira sub-parte respeita a iconografia – retratos, estampas e desenhos.

Obra de consulta, com muitas remissões, esta “Colecção de Elementos para a História do Concelho da Figueira” tem sido o manancial onde muitos dos que investigam a história figueirense a ela vão beber. Pedro Fernandes Thomás, cujo nome não figura na obra, deixou assim aos vindouros o que foi a base do seu sonho: sinais e pistas duma história da Figueira da Foz. É uma pena que, volvidos tantos anos, falte ainda este esforço: o da sua concretização.

António Tavares
Figueira da Foz, Junho de 2009

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